quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

SÓ UM DESABAFO





Nas ultimas semanas quando passo pelo Largo da Batata, em São Paulo, tenho visto algo que me incomoda profundamente.

É a nossa bandeira hasteada e toda rasgada.

Não sou tão velho assim, tenho 43 anos, quando estudava eu me lembro que no dia da Bandeira (19 de Novembro) todas as bandeiras eram trocadas e, durante o ano, se alguma bandeira se deteriorava a mesma era trocada.

Sei que pode parecer uma besteira e pode estar pensando:

- Poxa vida com tantos problemas profundos que temos esse cara vem falar de bandeira!?

Mas o que eu quero dizer não é sobre um pedaço de pano com cores estrelas e frases, mas sobre o SIMBOLO.

Para ser bem simples vamos na definição do dicionário:
substantivo masculino
1.     1. aquilo que, por convenção ou por princípio de analogia formal ou de outra natureza, substitui ou sugere algo.

Sendo assim, em uma analise até primaria, o símbolo de nossa bandeira nos representa como povo, nação e até mesmo como indivíduos.

Quem de nós usa em sua rede social, crachá de empresa uma foto feita antes de escovar os dentes pela manhã, ou depois de entrar correndo em um ônibus em um dia de calor?

Alias eu como fotógrafo de retratos corporativos, já cheguei a fazer 120 fotos de um mesmo profissional, tamanho o preciosismo dele para com a construção de seu “símbolo”, sim afinal a fotografia em um site é a representação gráfica do indivíduo , não O individuo já que este é composto de parte muito mais complexas e abrangentes do que uma simples imagem.

Pois bem. E lá esta a nossa bandeira surrada e ninguém nota, ou talvez não se incomode.

Seria uma desconexão com o que ela representa?

Será que estamos tão desconectados de um sentido mais amplo de nação, que o símbolo que nos representa só é lembrado ou usado para fins muito específicos e como ninguém se identifica com ele, qualquer um se sente no direito de dizer que lhe pertence (individualmente)?

Olhei para cima e vi a bandeira nessas condições, e a tristeza foi grande. Lembrei da época da escola quando aprendi a importância dela, e esse ensinamento carrego comigo até hoje. Não estudei em escola militar nem nada, uma escola comum no interior de São Paulo.

Fui trabalhar, mas com isso em mente e essa tristeza.

Saindo de um famoso restaurante após um primeiro trabalho eu ouço:

- Tio tira uma foto de mim!

Era a  Jéssica, nove anos vendendo suas balinhas na cidade, pegando 3 conduções por dia para chegar até aquele restaurante, para ajudar a família.




Mais tarde, em frente ao Hotel intercontinental da Alameda Santos, vejo sentadinhos conversando gostosamente e super alegres , três figurinhas: Jeferson, Caio e Jonas. Para eles a condução era mais simples apenas um ônibus e um metro, do extremo da Zona Leste até o local de trabalho .



Um verdadeiro almoço entre amigos, onde conversavam, riam bonito de se ver.


Pensava neles em quanto caminhava e pensava na Bandeira do Largo da Batata...



No começo da Paulista encontro com o José, mas ai, a condição era outra. O corpo já castigado pela vida nas ruas e poucas condições de se comunicar eme dizer algo com nexo.




Pensado em como nosso simbolo era tratado, me pareceu coerente a história desses personagens.

Se algo sutil, mas muito importante é tratado dessa maneira , que dirá aqueles a que ela representa.

Não quero com este post apoiar este ou aquele lado, pois gostaria que em algum momento eu conseguisse passar a mensagem de que os LADOS deveriam se lembrar que somos parte de um todo muito maior.

Quem sabe um dia todos defendam uma unica causa, abrindo mão, um pouco que seja, do nosso próprio egoismo e venhamos a entender o significado de Nação.

Não foi por acaso ou simples estética que a foto inicial é a que aqui esta.

Ela tem seu simbolismo. se chegou até aqui volta lá e me diz o que ela significa para vc!

Obrigado por ler meu pequeno desabafo até aqui.

E vamos que vamos!!!!!!

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

ALGUMA COISA ACONTECEU NO MEU CORAÇÃO.... bem ali na São João com a Ipiranga


Estou há muito tempo sem escrever por aqui...

O tempo passou, meu trabalho na Nigéria encerrou o ciclo, não via muito sentido em postar aqui meus trabalhos com fotografia que são mais sociais e comerciais.....

Mas ontem (28/08/2018) tive que ir ao centro de SP para fazer uns orçamentos.

Quem me conhece sabe que não vou ao banco sem estar com minha câmera.

Estava caminhando pela Av. São João sentido centro, quando ouço uma certa confusão ali no Largo do Payssandu (para quem não conhece é ao lado daquele prédio que desabou há alguns meses).

Puxei minha câmera e comecei a fotografar, era uma "rapa" da Guarda Civil.



Ao menos foi o que consegui apurar de informação com as pessoas por ali.

Sei que a história seria muito mais jornalistica se eu tivesse a informação completa e tudo mais.

Mas os detalhes realmente não me importavam e sim a reflexão que estes momentos me levaram.

Eu estava ali, registrando um fato de minha cidade, algo que pode ser corriqueiro até mas me fez parar e pensar.

Quem eram os personagens daquela história?

Não vou levantar bandeiras sobre violência de instituições e, se vc conseguir também não o faça e sim tente refletir comigo, sobre o que acontecia ali.

Cada qual tinha seus motivos e razões para fazer o que fazia e como fazia.

Em um local miserável da cidade de São Paulo, onde meses atras um prédio desabou matando pessoas e desabrigando muitas... mais uma cena triste da nossa sociedade.







Pessoas sem nada lutando por seu sustendo, viciados buscando suprir seus vícios, e policiais tentando manter a ordem.

Mas que ordem?

Como manter a ordem no caos que estamos vivendo?
Quem dá as cartas?
Quem determina o que é ordem?

Eu vi pessoas agredindo guardas civis, pedras sendo atiradas contra a unidade da guarda, pessoas gritando, filmando ou apenas observando a confusão.






Como chegamos a este ponto de vivermos quase em uma guerra... e aparentemente achamos normal?
quem são os personagens desta história?




EU!
VOCÊ!
TODOS NÓS!

Somos os personagens desta história.

Fazemos parte de um pais que sangra pelos poros.
Todos os dias é quase um exercício feroz de sobrevivência para todos nós, sejamos profissionais liberais, policiais, ou dependentes quimicos.

Veja não estou levantando NENHUMA bandeira contra quem quer que seja. Entendo que cada um tem seus motivos para fazer o que faz e como faz.

Estou tentando refletir sobre quais são os MOTIVOS para fazermos o que fazemos e como fazemos.

E chego a conclusão, óbvia, estamos doentes.

Não são ELES e EU, somos NÓS!

Fazemos parte de tudo isso.

Quando me dirigia para meu destino no inicio da minha caminhada pelo centro, minha única intenção era fazer uma foto da Ipiranga com a São João, que imortalizada nos versos de Caetano, tanto orgulha os Paulistanos

E não foi por acaso que fiz a foto da placa São João com Ipiranga.

Sim, alguma coisa aconteceu no meu coração, e não foi um poema tão belo quanto o de Caetano. Foi a reflexão sobre o que estava vivenciando. Sobre a crueza de nosso cotidiano.

Quando a confusão acabou...  estava retornando para a Estação República, quando vejo outra aglomeração de pessoas e muito sangue no chão.






Desta vez um imigrante desesperado, tentou tirar a própria vida com uma faca cortando seu pescoço.

Desta vez a policia não agredia, socorria.

E novamente a reflexão:

- Ninguém sai de onde esta, para uma condição de vida pior!

Imaginei o nível do desespero de alguém que saiu de seus pais para chegar a este ponto.

E ai a reflexão sobre nosso país ampliou para o mundo.

É estamos doentes!

Pessoas saindo de onde nasceram em busca de sobrevivência, pois já não é mais possível em sua terra natal.

É alguma coisa aconteceu no meu coração ali, bem ali, no cruzamento da São João com a Ipiranga.


terça-feira, 9 de maio de 2017

UM DIA NO CENTRO DE SAMPA

Exposição do IPEM na Secretaria de Justiça (Pateo do Colégio)
Uma Frase que ouvimos muito: TEMPO É DINHEIRO!!!

Se ela é certa ou errada não importa. Mas uma coisa eu sei, se nao usarmos bem o tempo perdemos muito, perdemos detalhes, perdemos momentos, perdemos oportunidades e,claro, também perdemos dinheiro.

Estou  um bom tempo sem escrever no blog, pois tenho que confessar não é facil fazer uma transição de carreira, ainda mais sendo "burro velho". 

Não foi fácil deixar de escrever minhas histórias da Nigeria, mesmo tendo muitas que ainda nao contei aqui, e provavelmente nem vá contar, pois são preciosas e escrever faria com que perdessem muito da emoção e sensação vividas.

Também não foi fácil mudar radicalmente a abordagem deste BLOG que construi com tanto carinho ao longo dos 4 anos que trabalhei com a Nigéria. Muitos me disseram para fazer outro Blog, para  contar mais histórias de lá, enfim, inúmeras sugestões. Por fim decidi manter este e continuar escrevendo minhas histórias aqui mesmo! Pois percebi que ele não é um blog de viagens, nem de negócios e nem será um blog de fotografia.

É um espaço onde aprendi a compartilhar minhas experiencias e, de alguma maneira, passar minhas impressões e emoções de TUDO que observo.

Então vamos lá!!!!!!

Depois de um tempo resolvi ir ao centro de SP fotografar o que mais gosto:pessoas, pontos de vista, procurar alguma coisa diferente ou apenas uma forma nova de observar algo que todo mundo vê, mas o TEMPO nao permite que enxerguem.



Galeria proxima a Barão de Itapetininga

"Coisa de desocupado" 
"ahhh vc ta com a vida ganha para ficar passeando por ai fotografando..."
 falta do que fazer...."

Sei que vou ouvir muito isso, se é que vc mesmo nao pensou rs

Mas, na verdade, estou usando meu tempo para observar, aprender e aproveito esse meu processo e compartilho, quem sabe pode ser util para alguém ou simplesmente alguem goste de ver minhas imagens e ouvir minhas histórias?

Mas chega de blablabla e vamos à minha caminhada que começou as 11:00 hs. Descendo no metro República minha intenção era fotografar do alto do Ed. Martineli, mas sei que o caminho a pé é bem mais interessante que de metro. 


No caminho comecei aquecendo:
Galeria proxima a Barão de Itapetininga

Galeria proxima a Barão de Itapetininga


Galeria proxima a Barão de Itapetininga

Nunca tinha subido nessa passarela e as suas linhas e cenas de uma SP antiga e moderna, de lados opostos, chamaram minha atenção. E olha que nos meus tempos da faculdade de direito, rodava o centro todo com minha pastinha na mão.


Caminhando, vi que ela dava uma vista super bacana para o Teatro Municipal. Do alto pude ver aquele pessoal aglomerado e aglomeração no centro é sempre um banquete de imagens e figuras interessantes na cidade.


Artistas de Rua!!!
Uma familia composta por mãe, pai e 2 filhos que vinham do sul rumo a Los Angeles em uma Kombi!!!!!!  

E estavam ali batalhando o sustento para cumprirem seu objetivo:




Uma MPB de primeira qualidade com um visual Steam Punk. Coisa que, como ouvi nas conversas das pessoas na rua, "só em São Paulo mesmo!" Ouvi tanto esta frase que acho que nós paulistanos falamos mais que "Orra Meu!" Vale o estudo rs

Seguindo para meu destino mais desejado, o Ed Martinelli. No caminho, passando pelo viaduto do Chá, vejo um cara todo contente andando e filmando com o cel de braço esticado (ô coitado). Sutilmente toco seu ombro e pergunto, já sabendo a resposta:

- Amigo, você nao é daqui certo?
Ele me responde com sotaque típico do Sul:
-Não sou não, to passeando!
- Eu notei que nao é daqui, veja,  não fica dando sopa com esse celular aqui, não.
- É que eu estou filmando o Viaduto do Chá para mandar para minha familia, achei que estaria seguro aqui!
- Então amigo, aqui é um dos locais que mais roubam celulares em São Paulo, desculpa estragar seu passeio, mas é perigoso ficar assim.


Com cara de assustado saiu rapidinho dali com o cel e a mão no bolso rs

Acho que, assim como em praias tem avisos: CUIDADO TUBARÕES, em SP deveriam ter placas: CUIDADO LADRÕES, sei que é triste, mas é uma realidade.

Chegando no Martinelli descubro que as visitações estão suspensas por prazo indeterminado... Que coisa.... quanta gente deve ter ficado tão chateada quanto eu e quantas outras também ficarão por não poder ter acesso à uma das mais bucólicas e lindas vistas do centro de SP, mas vamos lá.

Segui para o Largo São Bento, mas lá nao pude fotografar o que queria, mas pelo menos tivesse acesso ao contato para tentar fazer um trabalho bem bacana, aguardem novidades em breve. 

Novamente outra decepção: os casarões da Marquesa e arredores todos fechados, creio que só abrem nos fins de semana.

Centro cultural Banco do Brasil, ai sim!!!! 


Centro Cultural Banco do Brasil

Centro Cultural Banco do Brasil

Centro Cultural Banco do Brasil
Dizem que é uma SP que nao existe mais... Mas existe sim, é só ir la e ver!

E, claro, manter.

Segui para o Largo São Francisco, mas antes uma olhadinha pela Rua Direita




Gente, muita gente!!!
Andando, correndo, pensando nos problemas, olhando para o nada e para ninguem... só eles e seus pensamentos. E eu com os meus, tentando imaginar um pouquinho o que cada um que passava por mim estava pensando. Alguns pensamentos nem posso reproduzir, mas muitas sensações, olhando para os olhares perdido e ausentes....

Largo São Francisco

Idílio ou Beijo eterno - Artista: William Zadig 



Adicionar legenda
Sempre admirei esta escultura e acho que ela quebra toda a agitação do entorno, parece que o tempo para naquele instante, naquele beijo.

É só olhar um tempinho e muitas lembranças certamente irão aflorar.

Já era por volta das 16:00 e estava esfriando. E também não é lá muito recomendável andar por ali, ainda mais com minha câmera na mão.

No caminho de volta passei pela Prefeitura, outro prédio que nunca tinha entrado! UAU!!!!! que coisa mais linda e imaginar que aquilo era a sede de uma empresa privada! É de encher os olhos, fiquei imaginando os homens de terno e chapéu e as mulheres de vestido e bolsa no braço, indo e vindo por aqueles corredores. Só entrei no hall, mas valeu a pena, que coisa bonita e imponente, o cara sabia impressionar!

Na saída, ou entrada (?) outra linda escultura, alias recomendo o site: Monumentos de São Paulo bem bacana para quem quer conhecer um pouco das obras pela a cidade

GUANABARA de João Batista Ferri




Comecei pela Barão de Itapetininga e achei que iria terminar na Barão de Itapetininga....



Não era um artista de rua, nao era uma escultura e nem uma estátua.

Mas ali parado como se fosse uma Estatua Viva, ele me fez lembrar do tempo, do dinheiro, dos olhares e do quanto misturamos tudo. Achei que estava bom, que tinha finalizado meu dia de trabalho. Mas então acabou a bateria do meu celular e resolvi me sentar no chão da estação Faria Lima para dar uma "carguinha" em uma tomada que estava dando sopa por ali.

Ai, ah....  ai fiquei olhando o movimento e as pessoas que passavam bem na minha frente:


Um casal de jovens, cheio de carinho.

O tempo não para.

Mas algumas coisas fazem o tempo parar, ou ao menos usamos tão bem o tempo que ele parece parar...