quarta-feira, 23 de março de 2016

UNIÃO



Assim que chego no hotel, no dia anterior, vejo minhas msgs e tenho um surpresa bem desagradável.

O gerente de Lagos, que não é muito meu fã. Simplesmente não havia mandado os convites que eu tinha enviado para ele para ser encaminhado a todos os clientes.

Bem que eu achei estranho que nenhum cara de outras empresas havia aparecido para o treinamento. 

Mas pensei que era por conta da Pascoa, que é alta temporada para eles com muito movimento. E que provavelmente não quiseram enviar seus mecânicos e desfalcar seus times.

Mas não foi isso, os clientes simplesmente não sabiam....

Toca eu a ligar ara todos com uma desculpa bem esfarrapada convidando para o treinamento.

Para nossa alegria no dia seguinte quase todos estavam lá.

Mas ai veio uma questão que não esperávamos.

Caras feias, desconfiadas e insatisfeitas, dos mecânicos “donos da casa”

Antes de chamar o chicote, optamos pelo nosso jeto.

- Pessoal hj não temos empresas aqui, não temos tribos, não temos nacionalidades. Temos nigerianos que juntos vão aprender. Inclusive nós hj somos nigerianos, por favor só não falem com a gente em Igbo, hausa, funali, Calabar ou Yoruba, preferimos ingles mesmo!

E PAU NO GATO!!!

O calor estava escaldante, ainda mais dentro de uma caixa de motor de ônibus...











Mas estava bonito de ver a interação do pessoal e a forma como todos estavam trabalhando juntos e 
muito mais focados e participativos, mesmo no período da tarde.

O dia correu sem nenhuma novidade, muito trabalho, muito sol.  

Ai...... no fim do dia quando estávamos para ir embora . Aguardando próximos ao portão.

Uma discussão homérica começa bem próximo a nós. Quem gritava era o mesmo cara da “rasgada”.

Nem fico olhando quando eles discutem mas, de repente, ouço um estalo. Sabia o que poderia ser mas não queria acreditar.

Ai olhei a discução e vi o que não queria ver.

Antes de contar o que vi cabe uma explicação: Todo ônibus possui dois funcionários um é o motorista e o outro é o condoctor que é o assistente do motorista. Mas não dirige o onibis em hipótese alguma.

Pois bem.

Um condoctor simplesmente decidiu manobrar um ônibus, e fez uma mudança de marcha errada com um baita barulho.

Era ele que estava tomando a dura.

O primeiro estalo, que eu não vi, não sei o que foi. Mas o segundo foi um tapa na cara de mão cheia , daqueles que abrem o relógio de pulso.

E o cara ali , imóvel, quieto, subjulgado e tudo que vc possa imaginar.

A cena foi de embrulhar o estomago. Pela violencia de um e pelo subjulgo do outro. Na frente de todos, e todos quietos.

Ai, acho que o cara não se deu por satisfeito e quis ir alem.

Que tal fazer ele ser corrigido por um branco?

E tinha um ali dando sopa: EU!

Ele me chama, me coloca na frente do jovem, conta o que aconteceu e por que ele bateu e pede para que eu o repreenda.

Eu sei o que isso significa aqui. A palavra de um branco na frente de todos em uma situação daquela.

E eu ali.

Não sou o super homem, não sou santo e muito menos tenho sangue de barata.

Mas como sair daquela situação?

Eu precisava ajudar a um e ao outro.

Eu não queria falar nada queria sair daquela situação. Mas ei que a omissão não é uma boa escolha.

Respirei fundo, olhei para os dois e perguntei ao que tinha me chamado:

- Posso falar?

- Claro diga a ele que o que ele fez é errado!

Na minha cabeça, passavam mil coisas.

Pessoas que admiro, minha família, meus sobrinhos, meus amigos. Uma foi providencial, um jovem da cidade de Assis que dizia:

- É preciso aprender a engolir espinhos e cuspir flores

Nesse momento mais uma respirada profunda e lenta:

- My brother, nós estamos aqui para ensinar e treinar os mecânicos. Mostrar o que eles podem e não podem fazer.

Eu falava baixo e da maneira mais doce possível olhando ele nos olhos. A cada palavra eu só pensava no jovem de Assis, e não me importava com o que ia falar , mas sim, com o que ele iria sentir das minhas palavras.

- Eu sei que você só quis ajudar. Assim como os mecânicos aqui só querem ajudar. Mas as vezes eles erram, mesmo querendo ajudar. Vou falar para você o que falo para todos eles. Se vc não sabe peça ajuda, pois pode causar um problema para vc e para os outros. Mesmo que sua intenção seja apena ajudar. Por favor eu te peço  não faça mais isso.

Um certo silencio permaneceu por alguns segundos.

O jovem me olhava com um olhar, de dor e agradecimento mas principalmente muita tristeza.

Desejo que o coração de um seja aquecido e do outro também a ponto de amolecer. Mas sei que o caminho para ambos é longo assim como o meu.


Muito obrigado ao jovem Francisco de Assis, por se fazer presente meu coração.

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